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CRÍTICA | TAYLOR SWIFT - LOVER

CRÍTICA | LOVER
Com Lover, Taylor Swift quer deixar todas as dores do passado para trás e retomar o controle de sua vida.

Em seu 7º álbum de estúdio, Taylor Swift se mostra cansada de todo o drama que a cercou nos últimos anos. Se com o disco Reputation tivemos uma Taylor amarga e com sede de vingança contra Kanye West, Kim Kardashian, Katy Perry e companhia, agora a bandeira branca foi estendida. Taylor dá o sinal de paz e diz claramente que está seguindo em frente. 

E faz isso com um álbum que somente Taylor poderia fazer: romântico, sim, mas também sarcástico na medida certa. Afinal, como a própria artista declarou, Lover “é basicamente uma celebração do amor, em toda a sua complexidade, aconchego e caos”.  

Isso é amor. Não é apenas um sentimento bonito, cercado por borboletas e flores. Amar envolver comprometimento, esforço e por vezes dor. Amar significa se machucar vez ou outra e estar disposto a superar inúmeras dificuldades. 

Mas amar também pode significar precisar esquecer. E com a primeira música do álbum, I Forgot That You Existed, essa mensagem fica clara. É Taylor se vendo livre de todos os sentimentos ruins ao perceber que já não pensa mais naquilo (ou naquele) que não lhe fez bem.

E como é bom ver Swift se sentindo livre! Diferente do que ouvimos em Reputation, aqui os sentimentos não pesam sobre os ombros da cantora. Pelo contrário! Ela está com eles em suas mãos e pronta para deixá-los ir embora em uma música que te faz querer estalar os dedos acompanhando o seu ritmo. 

Em seguida somos apresentados à Cruel Summer, uma das melhores músicas de todo o disco. A canção nos fazer voltar um pouco no tempo, com uma sonoridade próxima ao que ouvimos em 1989. 

O refrão é pegajoso e realmente faz você se imaginar em pleno verão, em uma praia. Taylor agora canta sobre como é se interessar por uma nova pessoa e sobre o medo de como isso pode afetar a sua vida. Em certos momentos, os versos da música são gritados em tons de desespero, em uma expressão máxima de sentimentos e de como eles podem te enlouquecer. 

A terceira música, Lover, faixa-título do álbum, parece uma carta de amor escrita por Taylor para seu atual namorado, o ator britânico Joe Alwyn. A música nos leva de volta à velha Taylor, aquela “morta” em Reputation, mas agora trazida de volta à vida. A canção é o mais próximo do country que Swift já fez em uma composição própria desde de Red, seu 4º álbum de estúdio, lançado em 2012. Lover, com certeza, mostra tudo o que o disco homônimo é: romântico, que abraça a si mesmo sem medos. A música poderia ser facilmente a trilha sonora do casal protagonista da novela, que dançaria aos embalos da canção até os momentos finais. 

Na quarta música do disco, temos a resposta de Taylor a todas as críticas que a mídia já fez sobre a sua pessoa. The Man chega com os dois pés no peito, mostrando todo o poder de Swift e, principalmente, de como ela precisa trabalhar duro para ter todo esse poder sendo uma mulher. 

Muito criticada por todas as suas decisões comerciais, por sua vida amorosa, por impor suas ideias, Swift lança a pergunta: será que tudo isso seria facilmente aceitável se ela fosse um homem? É com essa supercrítica feminista que conhecemos a melhor música do disco!

Com uma letra afiada e sonoridade dançante, Taylor entrega o melhor do pop. Você vai ficar cantando essa música por dias e dias, se sentindo empoderado o suficiente para colocar no chinelo todos os machos escrotos que já passaram pela sua vida. 

A próxima música vem para acalmar os ânimos. Depois de The Man deixar o clima lá em cima, temos The Archer, balada romântica divulgada como single promocional de Lover.
Apesar de ser uma boa música, sofre por vir logo após a contagiante The Man. Soa quase como um banho de água fria. Mesmo assim, a canção ganha pontos por deixar a voz de Taylor em primeiro lugar, com uma batida ao fundo quase angelical, que ganha força nos segundos finais da música. A melodia é grandiosa, como em um clímax de um filme que está prestes a acontecer.

Na sequência, I Think He Knows volta a animar o disco. Nessa faixa, Taylor fala sobre um relacionamento em que seus sentimentos estão tão escancarados que, com certeza, seu interesse amoroso sabe claramente o que ela sente por ele.  A música traz um refrão com a voz de Swift distorcida, bem aguda e carregada de efeitos. Não é uma canção marcante, mas agrada.

Em Miss Americana & The Heartbreak Prince, temos um clima mais pesado em comparação a todas as canções anteriores. Nela, Taylor usar os tempos da escola como uma metáfora para retratar alguns aspectos da vida atual, como as brigas públicas que travou com Kanye e Kim, a desconfiança sobre a veracidade de suas atitudes, e a própria dificuldade de confiar em um novo amor. 

Apesar de ser uma música que diverte e traz temas importantes na vida da artista, ao fazer isso falando como uma adolescente nos tempos de escola, soa desconfortável. Uma pessoa com 28 anos, que já possui inúmeras outras experiências, poderia falar sobre os mesmos temas em uma perspectiva mais adulta. Com isso, parece que a composição da música poderia evoluir mais se essa temática infanto-juvenil fosse deixada de lado. 

Depois temos Paper Rings! Alegre e divertida, Paper Rings poderia ser interpretada pelo elenco de Glee em um episódio das finais de uma competição, e sem qualquer alteração. O tom da canção é tranquilo, esperançoso e super-romântico. Tanto que poderia ter vindo diretamente do disco Speak Now, da própria Swift.

Ao que parece, Taylor está novamente abraçando o country. Talvez agora que a necessidade de se provar como uma artista pop passou, Swift esteja mais confortável a colocar toques de seu antigo estilo em suas músicas novamente, sem receios do que a mídia ou seus fãs possam achar. Trata-se da perfeita harmonia entre o country e o pop. 

A partir de Cornelia Street, o disco perde um pouco de força. A música parece colocada aqui para preencher um espaço em Lover que, com suas 18 músicas, definitivamente não era necessário. Cornelia Street é uma canção piegas.

Com Death By A Thousand Cuts temos uma Taylor mais madura, expondo seu lado sexual como poucas vezes vimos a artista fazer. Em versos como “Tento achar uma parte de mim que você não tocou”, Swift fala sobre sexo, se embebedar e até mesmo xingar. 

O próprio refrão carrega um tom mais soturno. Ao que parece, nessa música Taylor assume que tanto ela como seu público cresceram. É um olhar importante para que todos possamos enxergar a artista fora do pedestal de perfeição que muitas vezes a colocam.

Ao ver uma Taylor mais humana, mais “gente como a gente”, se relacionar com os problemas da artista se torna mais fácil e os temas de suas músicas mais compreensíveis para o grande público, que muitas vezes já consome o seu material, mas não faz ideia sobre o que é que ela está falando.

London Boy é mais uma música que não precisaria estar no álbum. Poderia ser facilmente colocada como extra em uma versão deluxe ou algo do tipo. A canção é mais uma declaração de amor para Joe Alwyn, para te fazer querer dançar em um campo de flores num dia ensolarado.

A próxima canção do álbum, e talvez a mais comovente, é Soon You Get Better (com Dixie Chicks). A música foi composta para os pais de Taylor, que lutaram contra o câncer recentemente. A música é tão pessoal que Taylor já declarou não ter certeza se será capaz de cantá-la ao vivo, por ser tão carregada de emoções pesadas. 

A canção conta com a participação de Dixie Chicks, grande nome do country que Swift idolatra desde criança e, sem dúvidas, Soon You Get Better é a “música para fazer chorar” do disco.

Enxugando as lágrimas, temos False God. Trata-se de uma música dark, com sentimentos pesados que se aproxima muito do estilo de construção musical feita em Reputation. Com um quê de jazz ao fundo, False God, fala de se apegar a um amor que não é real, simplesmente pelo medo de ele acabar. 

Para erguer os ânimos outra vez, temos You Need to Calm Down, segundo single do disco e um verdadeiro hino LGBTQIA+. Taylor finalmente levanta a causa da bandeira da diversidade e se coloca na frente do campo de batalha.

Apesar de muito criticada no passado por uma postura apática e omissa em relação à causa LGBTQIA+, Swift declarou que apenas recentemente foi entender que, mesmo sendo uma mulher heterossexual, também cabe a ela lutar pela igualdade e respeito dessa comunidade que tanto a idolatra.  

A artista está pronta para defender seus amigos e todos os fãs que vem sendo atacados por homofóbicos ao longo dos anos. Com uma das letras mais inteligentes de todo o disco, Taylor pede para os haters se acalmarem, porque jogar shade nunca fez ninguém menos gay.

Em Afterglow, Swift assume sua responsabilidade sobre tudo o que deu errado em seu relacionamento (seria com Calvin Harris?). A música é, basicamente, sobre aprender a lidar com o término. A canção começa em uma melodia que vai crescendo, mas ao invés de atingir seu pico no refrão, o tom cai e o ritmo fica mais lento. 

Para entrar na reta final do álbum, temos o seu primeiro single, ME! (com Brandon Urie). Com certeza uma das músicas mais fracas do disco, com um refrão preguiçoso. Até hoje, essa música ser escolhida como primeiro single do disco pode ser encarada como uma atitude ousada de Taylor, se comparada a Cruel Summer ou The Man, por exemplo, que são músicas muito superiores. 

A canção é, sim, um pop chiclete que gruda na cabeça de quem a escuta. Mas está longe de dizer para que o álbum veio, como um primeiro single deveria fazer. 

A penúltima música de Lover é a fofa, porém esquisita, t's Nice To Have a Friend. A canção tem uma vibe oriental, com uma batida simples que parece continuar a mesma por toda a música. Sua letra trata de um amor, que também é seu amigo, e como isso é importante para uma relação.

Encerrando o disco, Swift canta em Daylight sobre uma nova perspectiva que adquiriu sobre a vida e também sobre o amor. Agora, o amor deixou de ser vermelho, como era em Red, para ser dourado, marcando o início definitivo de uma nova era, uma nova Taylor. 

A mensagem final do disco é otimista em relação ao amor. O sentimento que fica após todas as músicas é que Taylor precisava limpar todo o ódio e amargura dos últimos anos e transformá-lo em amor. Um recado válido para todos nós. 

Apesar da boa intenção, com 18 músicas, Lover soa cansativo e poderia ser perfeito se um pouco mais enxuto. Como um todo, é, sim, mais um álbum poderoso de Taylor Swift, mas que acaba oscilando entre momentos bons, ótimos, e outros simplesmente “méh”. 

Nota: 4/5.
CRÍTICA | TAYLOR SWIFT - LOVER
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Crítica do disco Lover, da cantora Taylor Swift,

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