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O Consumo de Moda no Terceiro Milênio

         Atualmente, o mercado de Moda está dominado por cadeias de fast fashion, que se utilizam de mão de obra barata (muitas vezes escrava) de países como China, Índia e Taiwan para citar alguns, conseguindo trazer para suas lojas, numa velocidade sem comparação, novidades e tendências com um preço mais do que competitivo. Muitas vezes, essas coleções são baseadas, para não dizer plagiadas, de estilistas e Maisons que expõe suas criações nas semanas do calendário de Moda oficial. Um exemplo recente é o caso do rapper Kanye West, que desfilou a segunda coleção de sua marca em NY para ver, na semana seguinte, uma versão extremamente similar já nas araras da gigante Zara, rebatizada de “Streetwise”. As cores, os shapes, os modelos, tudo lembrava uma versão barata do que havia sido mostrado, dias antes, na NY Fashion Week e já estava nas prateleiras para venda, antes mesmo que Kanye West tivesse conseguido produzir sua própria linha e comercializá-la. Este é o ponto que o fast fashion chegou aos dias atuais.
        A obsessão por tendências, novidades, torna as roupas nada mais do que peças descartáveis e é assim que elas vêm sendo feitas, com qualidade cada vez menor, já que sua expectativa de uso é considerada cada vez menor também. 
       E-commerce, compras online, estímulos e anúncios vindos de todos os cantos tornaram esta uma geração que exige e espera gratificação instantânea em tudo. Estudos já demonstraram que nem se tratando de notícias as pessoas leem até o final, veem apenas o título ou clicam e leem o começo e passam para outra coisa. O spam de atenção é cada vez menor. E como competir com tantas marcas, com preços tão baixos e novidades incessantes?
      Talvez, o segredo seja não competir. De uns tempos para cá, uma mudança no pensamento de algumas pessoas dessa geração começou a ser notado. Quando possuir (especialmente, possuir as mesmas coisas que todos possuem) não é mais significado de sucesso ou de segurança, consumir menos e de forma mais consciente se torna essencial e uma forma de poder.
        De repente, movimentos que se preocupam com o meio ambiente e impactos que o mercado de moda causa começam a ganhar força, e marcas que têm uma etiqueta e uma ética de trabalho eco-friendly, ainda que cobrem um pouco mais, começam a ganhar atenção e atrair consumidores. Outro caso interessante é a marca “Honest by”, uma marca belga que se diz a primeira marca 100% transparente, e se propõe a mostrar todos os custos envolvidos na cadeia de produção, materiais e mão de obra no preço final de cada peça. Transparência é outro grande tema que vem surgindo e sendo debatido esses dias; principalmente, depois dos escândalos envolvendo grandes marcas do ramo que se envolveram em controvérsias referentes à mão de obra ilegal.  As pessoas começam a pensar de onde, a que custo e como são feitas as roupas que estão usando. Consumidores mais conscientes e envolvidos, que questionam e não simplesmente aceitam o que quer que lhes seja oferecido.
       Nadando contra a corrente das grandes cadeias de fast fashion, com essa crescente demanda de roupas e marcas mais transparentes e conscientes, vem também uma compreensão de que este ritmo alucinado talvez não seja para todos. O slow fashion é um movimento que vem ganhando força, onde observamos uma tendência comportamental em relação à moda, uma maior valorização por tudo o que consumimos. Um resgate ao único. Produtos que incorporem valores e construam uma relação emocional, que não tenham uma expectativa de vida de apenas seis meses ou até a próxima tendência o tornar obsoleto. São mais do que isso.
      Marcas vintage e atuais, mas que acreditam neste conceito estão espalhadas mundo afora. As peças e roupas vintage, por sinal, estão cada vez mais valorizadas não só por seu design, mas por sua “bagagem”, carregam com si uma história, o que as torna únicas numa época de massificação de tendências, além de terem uma qualidade superior as das peças confeccionadas atualmente.
      Marcas brasileiras também estão aos poucos aderindo ao modelo slow fashion, um que não as mantém presas ao calendário oficial de moda e as permite criar peças num ritmo mais humano e que tenham uma estética atemporal.
      O reaproveitamento de roupas, dando á elas um novo propósito e cara, o tal Upcycle, também é uma tentativa de ir contra este movimento onde tudo é tão descartável e desvalorizado.
      Acredito que, sim, as fast fashion ainda vão continuar por aqui por um bom tempo, pelo preço competitivo que oferecem e por levarem moda a quem não teria acesso (as parcerias com estilistas renomados dão a quem nunca poderia comprar algo original da marca a sensação de possuir algo desse universo luxuoso), ainda que numa qualidade inferior. Acredito, também, na mudança que já vejo acontecendo de consumidores, principalmente de acordo com seu nível de instrução e situação financeira, buscando alternativas, procurando conhecer o trabalho de marcas novas, menores, apostando em artistas iniciantes, questionando sobre a procedência de suas roupas, tanto quanto questionam quando uma marca faz uma propaganda misógina ou de mau gosto. A mentalidade de consumo está mudando, mas como tudo, ela começa aos poucos e pelo topo da pirâmide. A forma como consumimos moda, nunca mais será a mesma. A mudança já começou, os olhos já estão abertos.


  
O Consumo de Moda no Terceiro Milênio
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O Consumo de Moda no Terceiro Milênio

Article about how we consume fashion in the third millenium

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