RESUMO
Alexandre Plautz Lisboa, 20, estudante do 4º período de Ciências Sociais – Licenciatura na Universidade Federal do Paraná e seu namorado foram vítimas de um crime de homofobia. Um cobrador acusou o casal de safadeza ao lado do tubo do ônibus. Alexandre está na luta para resolver seu caso e também para ajudar a população LGBT que passa por situações de preconceito todos os dias.
 
Luta contra a homofobia
Alexandre foi ameaçado com um pedaço de pau por um cobrador no tubo de ônibus que pega diariamente
 
Depoimento a
Amanda Lüder
 
  Há cerca de dois meses, eu e meu namorado estávamos saindo da minha casa, que fica na Vila Guaíra, por volta das 10 horas. Era nosso aniversário de seis meses de namoro. Fui acompanhar o Leonardo até o tubo do ônibus.
  Chegamos lá e ficamos esperando do lado de fora, já que eu não iria com ele. Estávamos abraçados quando o cobrador, cerca de 50 anos e branco, falou para respeitarmos o local público, pois havia famílias e crianças dentro do tubo. Nenhuma dessas pessoas falou nada. Nós dois resolvemos questioná-lo, porque não estávamos fazendo nada de errado.
  Ele começou a nos acusar de safadeza, sendo que o máximo que fizemos ali foi dar um selinho, e ameaçou chamar a polícia. Falei para ele que podia chamar, pois não é proibido beijar e abraçar. Ele pegou seu celular e não sei se de fato ligou ou apenas fingiu.
  O ônibus chegou e falei para o Leonardo entrar e não perder mais tempo ali discutindo. Ele pagou a passagem para esse mesmo cobrador e foi, junto com todas as pessoas que estavam dentro do tubo. Fiquei sozinho com o cobrador. Falei para ele que ia ficar ali esperando a polícia, e disse que também ia ligar para lá e para a Urbs para denunciá-lo. Perguntei seu nome e ele se recusou a dizer.
  Ele saiu de sua cadeira e pegou um pedaço de pau que fica ali em cima no tubo. Eu continuava do lado de fora, mas estava próximo. Ele veio lentamente pra cima de mim enquanto eu recuava.
  Não acreditei no que estava acontecendo. Comecei a gritar perguntando pra ele por que ia me bater. As pessoas que estavam no tubo da frente viram a cena, mas ninguém fez nada. Voltei para minha casa.
  Quando cheguei, falei com o Henrique, meu irmão. Minha mãe, infelizmente, estava viajando. Liguei pra Polícia Militar para contar o ocorrido e a mulher que me atendeu disse que ia mandar uma viatura para o local. Voltei para lá com meu irmão e uma viatura da guarda municipal estava lá.
  O cobrador reafirmou para os guardas que estávamos de safadeza, e disse que só faltava tirarmos as calças. Conversei com eles, que não quiseram nem me dar o nome do cobrador. Pediram para eu telefonar para o 156, que eles me dariam o nome para eu fazer o Boletim de Ocorrência. Liguei e também não me deram.
  No mesmo dia, mais tarde, eu e meu namorado fomos fazer o BO na delegacia, mesmo sem o nome. Também postamos o caso no Facebook na tentativa de incentivar a população LGBT que passa pela mesma coisa a fazer o mesmo. Ainda fiquei na expectativa de alguma testemunha ler e se manifestar, mas até agora nada.
  Além disso, eu esperava que o acontecimento tomasse maior proporção. Três reportagens foram escritas sobre isso. Em uma delas, os comentários das pessoas foram absurdos. Chegaram a inventar que estavam lá e viram que estávamos nos masturbando. Isso me deixou mais chocado ainda.
  Dois dias depois do BO, nos ligaram para darmos um novo depoimento. Na volta, descemos no tubo em que esse cobrador trabalha. Tinha outra cobradora lá que, apesar de resistente, contou que ele se chama Ezequiel. Minha prima também conseguiu conversar com outros cobradores e confirmou esse nome para mim.
 Ainda descobrimos que havia câmeras funcionando nesse dia no tubo, e estamos esperando o delegado pedir as imagens. Também temos um advogado nos ajudando de bom grado.
  Até hoje, Ezequiel continua trabalhando lá normalmente, nada mudou na vida dele. A minha que foi afetada. Esses dias fui dar aula e seria muito mais fácil pegar ônibus no tubo em que ele estava, mas ainda não sei o que pode acontecer se eu ficar cara a cara com ele novamente. Acabo tendo que mudar minha rota algumas vezes, e isso é um absurdo.
  Não quero mudar tanto a minha vida por causa disso, estou tentando me fortalecer a partir do que aconteceu. Quero erguer a cabeça e lutar para eu não precisar esconder quem sou. Acredito que só a luta mudará as coisas.
  
 
 
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Depoimento redigido para a disciplina de Redação Jornalística I.

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