Capuraque, 55

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) 
Pós-graduação em Processos Criativos em Palavra e Imagem - PUC-Minas
Concepção editorial e projeto gráfico Ana C. Bahia
Ano 2015

Um livro é uma sequência autônoma de espaço-tempo.
[Ulises Carrión] 

Tudo no mundo existe para tornar-se livro.
[Sthéphane Mallarmé]

Concebido para ser um corpo físico expressivo e um território de experimentações, o livro Capuraque, 55 explora as articulações entre palavras, imagens e materiais para investigar a relação corpo-espaço-tempo-movimento. Ele é composto em dois volumes contidos em uma caixa: um maior, em capa dura revestida de tecido, no qual há, em seu interior, uma diversidades de papéis (alguns dos quais foram deixados por uma semana no quintal, entregues às intempéries) e materiais, conferindo-lhe uma variedade de texturas; e outro menor, em capa flexível, no estilo flipbook, no qual há uma sequência de imagens que captam um movimento.

A ideia para esse livro-objeto-experimental surgiu de um encontro com o meu amigo Bernardo RB em sua casa, no bairro Floresta, na cidade de Belo Horizonte. Bernardo é um investigador de diálogos poéticos do movimento. Ele busca, em seus trabalhos, trazer à tona o que seria a escrita do movimento e também as danças da escrita. Propus a Bernardo que ele habitasse o quintal de sua casa, colocando seu corpo para interagir com as frestas, com as plantas, com o chão, com os muros e com o sons. Observei e registrei. Capuraque, 55 é o resultado dessa experiência transposto para o formato de um livro. 

Como o corpo pode ficar indiferente ao quintal? E como ele pode encontrar novas formas de estar lá? Como permitir que a imaginação respire com o corpo a dançar no espaço? Que matéria está a se movimentar? Que temporalidades se desdobram?

*

Em Capuraque, 55  a caixa é a casa do livro. O livro é o corpo que habita a casa, onde um outro corpo dança no quintal. O endereço é Rua Capuraque, 55. Vamos entrar, vamos abrir para ver e mover. Dentro da caixa temos o livro. Um livro configura um território, um corpo ou também uma casa. Um livro é o tempo passando e as camadas acumuladas da memória. Esse livro tem a sua própria coreografia e pode ser a experiência em si ou um veículo para a “leitura que se desfolha a olhos vistos pelas pontas dos dedos" (DERDYK, Edith). Quando o abrimos, podemos sentir seu ritmo próprio, que nasce do manuseio do seu corpo, da densidade dos seus papéis, das cores refletidas, das texturas que as suas superfícies revelam ao toque. As páginas que o constituem foram pensadas de modo a recriar as sequências contínuas e descontínuas de uma dança, construindo articulações entre palavras, imagens e materiais. No seu interior, a narrativa está estruturada em três momentos: o primeiro conforma o meu olhar sobre a experiência de Bernardo; o segundo é uma costura que vem conectar a experiência dele à voz de Sofia Neuparth (C.E.M. - Lisboa), expressa através de excertos de “remanchar”, texto que integra o livro “práticas para ver o invisível e guardar segredo”, de autoria da própria; e no último momento temos Bernardo falando. O discurso é o percurso, e cada página uma matéria expressiva, um canto a ser descoberto no quintal. O livro é como um acúmulo de pequenas percepções, tecido celular que convoca nossas sensibilidades. Sua estrutura é sequencial, cinematográfica. Os materiais que o constituem, cada qual revela um gesto, uma qualidade ou uma temporalidade.

Belo Horizonte, MG, Brasil

Capuraque, 55
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Livro-objeto apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) ao Programa de Pós-Graduação em Processos Criativos em Palavra e Imagem. “Cap Read More

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