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Entre o amor e a dor: dificuldades (carreira musical)

Entre o amor e a dor: as dificuldades enfrentadas por
aqueles que sonham com a carreira musical
“A questão pessoal impacta muito, principalmente acerca das inseguranças com as composições e ser um artista independente”, relata jovem que iniciou sua carreira e teve que superar obstáculos
Ana Luisa Oliveira e Bárbara Aparecida da Silva Diamante
Créditos: Arquivo Pessoal (Rafael Soares).
O hip-hop, movimento iniciado no Brasil nos anos 1980, que tem como bases o grafite, o DJ, a dança e a poesia, também é intimamente ligado à periferia. Associado muitas vezes às drogas, crime e uma vida “não-convencional”, o cenário do hip hop brasileiro sofre ataques frequentes de quem não consome e não conhece o estilo verdadeiramente, sem saber que há diversos outros fatores que tornam esse estilo musical tão popular e consumido entre a população de nosso país.

Na tentativa de reverter essa perspectiva e trazer uma visão mais positiva para o cenário do hip-hip, jovens periféricos como Rafael Soares (20), buscam uma maneira de se expressar, juntando as aflições da vida com a leveza e ritmo das
poesias que traduzem os sentimentos desses meninos.


Morador da zona oeste, o cantor e produtor passava por um momento difícil, com dúvidas em relação ao seu propósito de vida e se sentia perdido quando encontrou conforto em poder escrever e expressar o que vivenciava em formato de
música. Utilizou o trap - um subgênero do hip-hop - para isso. Durante o início da carreira, contou com o apoio do pai, que o incentivava a compor e até o acompanhou nos processos iniciais da carreira musical, como ida à casa de colegas
para gravações, no teste e montagem de equipamentos, por mais que a carreira ainda não fosse consolidada.


Após o falecimento dele, Soares se sentiu motivado a continuar, como uma maneira de honrá-lo e sempre trazer à memória os sacrifícios do pai por sua carreira, mesmo quando o sonho de viver da música ainda era algo incerto.

Nelson de Souza (23) - ou DKZO, como é conhecido musicalmente - também adentrou no trap por conta da identificação. O hip hop sempre esteve presente em sua vida, desde quando era criança, onde tinha a influência de seus pais e sua irmã acerca do estilo. Ele cresceu nesse ambiente favorável para que a paixão pela música e pelo gênero musical nascesse. Quando um amigo que produzia músicas nesse estilo lhe ofereceu a oportunidade de aprofundar os conhecimentos, de maneira mais profissional, começou a participar do processo de criação.

O rapper relata que no início escrevia em grandes quantidades. Criava personagens em uma tentativa de trazer uma nova perspectiva para seus conflitos internos e lidar com eles de uma maneira melhor. Tiveram momentos em que teve
de utilizar o método com maior frequência, como por exemplo, quando estava passando por um momento de luto, também por conta do falecimento do pai.


Tanto Soares quanto DKZO relatam que existem inúmeras dificuldades, principalmente no início da carreira. As principais delas - pontuadas por ambos - são em relação aos equipamentos, que não são acessíveis. Para lidar com as
adversidades, tiveram de improvisar: Rafael, por exemplo, gravava os áudios através do whatsapp, os baixava e somente depois de todo esse processo enviava para os softwares.

Rafael faz música há mais de 3 anos e, ao produzir, pensa não somente na composição, mas no cenário musical como um todo, atento ao que já existe e naquilo que pode ser um diferencial, afinal “música vai além de compor e de cantar”.
O processo envolve não só encaixar as letras dentro da batida, mas todo um estilo de vida.


O produtor Jopson conta que a vivência é um fator que influencia diretamente no momento de compor e que o público se atrai por se identificar com as experiências de vida descritas nas letras das músicas. Ele complementa que um
artista que de fato influencia as pessoas, não expressa apenas o imaginário em sua letra mas também expressa o que vive, mostrando para o público que o mais importante não é só saber rimar mas colocar sentimento e paixão nas letras: “Uma coisa que eu prezo muito nas minhas músicas é o sentimento. Porque música é sentimento”.


Após ser questionado a respeito da importância de grandes festivais terem artistas periféricos em suas line-ups, Jopson traz à tona a importância da representatividade desses artistas para esses jovens que estão começando a carreira e que trabalham de maneira independente. “Essa representatividade acaba aumentando a nossa perspectiva, tanto de vida quanto de auto realização de algum sonho que gostaríamos de alcançar”.

O produtor também nos conta que a maneira de identificação na relação entre artista e público diz respeito à questão da construção do músico, a partir de suas letras, sua influência, suas opiniões, da imagem pessoal daquela personagem, vêm de toda a construção dele como figura pública. “A identificação vem da influência do artista, das opiniões, das letras. Ela vem de tudo”.
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