Atividade 3

“A fotografia é, essencialmente, uma atividade analítica.”
~ Stephen Shore, A Natureza das Fotografias


Observar. Eu observo (ou, pelo menos, tento). Seguindo a lógica da professora Camila nas aulas de Fotojornalismo e reavivando as minhas aulas de Latim do ano letivo passado, começo por pesquisar o cerne do verbo que se pode situar entre "ver" e "reparar". A palavra divide-se em dois: o prefixo ob- ("voltado para, contra") e a primeira pessoa do singular no presente do indicativo de servāreservō ("mantenho", "protejo", "presto atenção", "preservo").

Fotografar os sítios, as personagens, os objetos; atentar nos pequenos detalhes que compõem os espaços da FLUP e respetivos arredores, pelos quais passo regularmente, no quotidiano, com o meu passo apressado, é um exercício que vou procurando fazer.
Contudo, fazer-me acompanhar pela minha máquina fotográfica por uma hora e poder parar para ver e reparar neles, registá-los, escolher a dimensão ou a abrangência do plano, o ângulo do qual os capto é um exercício deveras interessante e com alguma dose de desafio. Sinto que, durante a sua execução, passei também a fazer parte do espaço em meu redor, porque o meu olhar de fotojornalista leva-me a integrá-lo, deixar-me até ser absorvida por ele, pois a minha "simples" função (e perdoem-me a redundância) é captar imagens da minha perspetiva, no sentido de perspetivar a realidade, para que, quem vê as fotografias resultantes, coloque também em perspetiva pequenos instantes e partes deste mundo.

O universo de 79 fotografias captadas nos 60 minutos de atividade prática colocou à prova o meu critério de seleção. E juntemos à equação o facto de ser bastante indecisa e o valor afetivo associado a umas quantas fotografias.
Fotografei diversas personagens e alarguei o campo fotográfico até ao exterior da faculdade.
Os registos foram iniciados ainda dentro da sala de aula. Uma árvore contemplava-me fixamente do exterior.

À medida que ia descendo os três andares, fotografei alguns detalhes arquitetónicos da faculdade, seguindo-se algumas zonas mais recônditas. Dirigi-me até à árvore que havia fotografado pouco antes da sala. 

Reencontrei a senhora que estava a varrer as folhas e que tinha, inclusivamente, tentado fotografar, ainda na sala 301. Segui o seu trabalho por uns minutos, ambas dissemos "Bom Dia" e seguimos caminhos opostos.

Junto às residências, fotografei uma pessoa que, no passado ano letivo, reivindicou, com alguns colegas, o fim das propinas e a redução do valor das rendas, se não estou em erro.

Quando @s meus/minhas colegas dispersaram mais pelo espaço, consegui encontrar um gato algures entre os carros estacionados perto da árvore que tinha fotografado da sala. Andava atrás dele e a chamá-lo e, quando me apercebi, estava um homem dentro dum carro mesmo ao meu lado.

Aventurei-me a entrar nas garagens da faculdade (foi até terapêutico, pois os únicos momentos de proximidade com este espaço que experienciei foram em ensaios de violino, quando integrei a Tuna Feminina de Letras, e não os recordo da melhor forma, fica a partilha).

Em seguida, saí da faculdade pelas traseiras. Ia descer até à Rua de Dom Pedro V, mas as obras na Rua da Pena e o facto de, após fotografar dois trabalhadores, ter sido questionada por um outro se estava a fotografá-los fizeram-me retroceder e seguir por outro caminho. Optei por contornar o Jardim da Pena no sentido e lado opostos e subir por ruas estreitas entre prédios até ao Restaurante Capa Negra e regressar à FLUP, passando pelo constante trânsito da zona do Campo Alegre.

Algures neste percurso, fotografei uma idosa que passava pelo jardim. Havia um contraste notório e interessante entre o seu passo calmo e dificultado pela idade e um grupo de caloiros que corria em contexto de praxe, metros ao lado, no meio do jardim. Digno de ser captado. Contudo, salvaguardando-me, limitei o meu disparo fotográfico ao andar vagaroso da senhora. Ela sentou-se, trocámos Bons Dias e, em seguida, registei a roupa estendida duma casa cinzenta que, no fundo, dava a cara pela habitação. A senhora disse-me ironicamente que eu estava a fotografar “uma coisa muito linda”. Riu-se. Expliquei-lhe a atividade e, em resposta, disse-me que fazia muito bem, que assim fazia sentido. Encorajou-me, agradeci, segui caminho.

Captei detalhes dos prédios, em boa parte, vazios àquela hora da manhã, mas que não deixavam de transparecer marcas da presença humana no seu interior, através das janelas e das varandas.

Era, então, tempo de regressar. Fotografei o Capa Negra a "despertar", algumas flores, a sua quietude, o quão singelas e bonitas são, os jardineiros camarários que delas cuidam, em contraste com os carros acelerados que por ali passam.

Por fim, ainda fotografei uma rapariga que, calculo, esperava por alguém à entrada da FLUP e, de novo na sala, registei oura vez a árvore que me fitava fixamente do exterior. Como o encerrar de um ciclo.

Ainda que com dificuldade, selecionei cinco fotografias que considero serem as melhores das resultantes desta atividade:
Captei alguns detalhes com diferentes enquadramentos, de diversos ângulos, com o objetivo de dar a conhecer alguns dos detalhes e personagens desconhecidos do espaço da faculdade na qual estudo.​​​​​​​
Para realizar esta atividade fiz-me acompanhar e utilizei a minha companheira fotográfica, uma Canon digital.

Desta atividade retiro que as fotografias contam histórias por si só, seja de que forma for.
O que as diferencia é a forma como queremos e fazemos com que a sua voz inaudível conte essas histórias, a voz que damos a cada uma.

Beatriz Tavares
Atividade 3
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