Já fui xingada, negligenciada, usada, discriminada, amada e maltratada. A única coisa que sempre fui e ao mesmo tempo nunca pude ser, é lésbica. 

Me lembro, como se fosse ontem, do peso que essa palavra tinha para mim. Mal sabia eu que falar era bem mais fácil que ser. Quantas vezes neguei o meu verdadeiro eu e a minha sexualidade por medo do mundo?

Ser lésbica é entender que muitas mulheres vão passar pela sua vida, que algumas delas vão se apaixonar, outras não. É compreender que por mais que você ame muito alguém parecida com você, essa pessoa pode te fazer muito mal. 

Conceber que ser lésbica vai te privar de muitas coisas, das velhas amizades, do carinho de parentes, da admiração das pessoas na rua. Afinal, se eu não estou com um homem, meu amor não merece ser admirado e aplaudido, né? 

Tentei seguir padrões por tanto tempo que me perdi. Por quase toda vida tive medo do que eu sou, tive medo de encarar o meu interior e constatar que o mundo vai ser ainda mais difícil para mim (como se ser uma mulher negra e pobre fosse fácil). 

Poderia me conformar, seguir por outro rumo, ignorar minhas vontades, meu coração, minha sexualidade. Mas não. Eu tenho que tentar, certo? Levei 22 anos para me entender e me aceitar. Acho que isso foi a coisa mais difícil que já tive que fazer. O que é a aceitação dos outros para mim, perto da minha que já foi tão árdua e cansativa? 

Ser lésbica pode sim ser um peso, para os outros: homofóbicos, conservadores e “cidadãos de bem”. Mas  para mim, não é mais. É quem eu sou, e quem eu sou ama garotas! 
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