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Representação da quarentena em uma fotografia

Proposta: representação da quarentena aos meus olhos
Na foto, podemos ver o motivo praticamente de costas, enquadrado acima do ombro, o qual olha para uma tela de computador e, a sua volta, é possível ver diversas embalagens de comidas e bebidas.

Para explicar as técnicas aplicadas nesta fotografia, terei como base principal base o livro “Fotojornalismo - Uma introdução à história, às técnicas e à linguagem da fotografia na imprensa” de Jorge Pedro Sousa, mas também será usado o artigo Linguagem fotográfica de Claudio Feijó.


Tomada da cena:

O computador fotografado é o meu computador pessoal, que está no quarto. Eu escolhi fazer o isolamento do PC do resto do quarto, usando o grande plano, para expressar a sensação de que é apenas isso está sendo relevante nessa época. Logo, esse momento que estamos passando está baseado apenas nisso, computador, trabalhar e estudar.

Grande plano: os grandes planos enfatizam particularidades (um rosto, uma janela...), sendo frequentemente mais  expressivos do que informativos, embora também sejam menos polissêmicos do que os planos gerais, já que estes últimos possuem mais elementos para consumo do observador (SOUSA, 2002, p. 79).

O enquadramento da cena foi feito usando o ângulo de mergulho e o motivo foi posicionado na lateral esquerda no enquadramento. 
Segundo Feijó, “A máquina na posição de mergulho, tende a diminuir o sujeito em relação ao espectador e pode significar derrota, opressão, submissão, fraqueza do sujeito”. Com isso, o uso do ângulo de mergulho foi utilizado para demonstrar o estado depressivo que se encontra o sujeito na situação atual. O seu posicionamento no canto da cena tiveram dois motivos: o primeiro foi para fazer com que o observador corra os olhos por toda a imagem, aumentando a percepção do cenário em volta do sujeito; o segundo motivo é para deixar a imagem em desequilíbrio, logo, esse desequilíbrio gera tensão e a tensão faz com que o observador tenha uma leitura mais profunda, assim, conseguindo absorver melhor o sentimento proposto na foto.

Ao colocar-se o tema fora do centro, obriga-se o olhar do observador a mover-se pelo enquadramento e permite-se a esse observador uma melhor observação contextual do ambiente que rodeia o motivo (SOUSA, 2002, p. 81).

O desequilíbrio gera tensão e, portanto, favorece uma leitura ainda mais activa da imagem (SOUSA, 2002, p. 87).

Na fotografia, foi usada uma lente de 18mm, considerada uma lente grande angular. Uma das características dessa lente é a distorção no tamanho e na proporção do que é fotografado, principalmente, no que se encontra mais nas laterais da imagem. Feijó chama essas distorções de Aberrações, definindo-as da seguinte maneira:

Todas as deformações da imagem, que a técnica fotográfica nos permite usar, tem conotações bastante marcantes. As deformações, causadas nas proporções das formas dos elementos da foto, fogem à realidade causando um forte impacto.

O uso dessa lente, junto ao motivo posicionado próximo a câmera e na lateral da cena fez com que a cabeça do sujeito tivesse uma deformação, deixando-a maior de maneira desproporcional. Podemos ver essa distorção muito evidente olhando para a orelha do sujeito. O objetivo foi usar essa distorção feita na cabeça para representar a saturação e a pressão que está sendo essa quarentena, como se a cabeça estivesse “explodindo” por causa do sobrecarregamento que o sujeito está tendo.

Baseado em Roland Barthes (1961), Sousa (2002) elenca 6 divisões no processo que ele chamou de conotação fotográfica barthesianos, onde podemos pontuar algumas das características marcantes na construção dessa fotografia.

►Truncagem
►Pose
►Objectos

Esses 3 elementos são caracterizados da seguinte maneira por Sousa (2002):

Truncagem
A truncagem consiste na introdução, modificação ou supressão de elementos numa fotografia.

Pose
Os gestos e as expressões significativas do ser humano, nomeadamente quando são encenados de propósito para figuração na imagem fotográfica (o que constitui a pose propriamente dita).

Objectos
A presença das representações de determinados objectos numa imagem fotográfica contribui para a construção de sentidos para essa fotografia.

Seguindo essas definições foram usados os seguintes pontos pelo fotógrafo:

Truncagem
A truncagem usada foi a sobreposição de duas imagens, fazendo o recorte e diminuindo a opacidade do sujeito, fazendo com que ele quase desapareça, como um fantasma. O objetivo dessa abordagem foi representar essa separação de corpo e “alma”, mostrando que o sujeito perdeu parte dele nesse momento, onde ele não é mais ele por completo, e o que sobrou dele está se perdendo aos poucos.

Pose
Basicamente, é a pose feita para a fotografia. Logo, essa maneira que o sujeito está posicionado foi pensada para se encaixar no enquadramento da foto e representar que ele está lendo algo atentamente na tela do computador. 

Objectos
Na construção desta cena, foram adicionadas várias embalagens vazias de comidas e bebidas. Esses objetos foram inseridos na cena a fim de representar a passagem do tempo e a rotina quase infinita de trabalho, onde, aparentemente, passou-se dias e as embalagens de comida e bebida foram se acumulando.

Resumo da ideia principal da fotografia
O que eu quis representar com essa foto da quarentena foi que esse isolamento é depressivo e que a rotina exaustiva de trabalho e estudos está acabando com o meu bem estar físico e psicológico. Estou cada dia mais triste em ter que permanecer dessa maneira e quis trazer essa sensação para a fotografia, tentando gerar desconforto para aqueles que a observam.

Representação da quarentena em uma fotografia
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