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Matéria | Das gingas à integração social

Das gingas à integração social

Oficina de capoeira do MUNDI leva cultura e esporte para a população

Cristiellen Sousa
O som ditado pelo ritmo do berimbau, do pandeiro e pelo batuque do atabaque, acompanha os movimentos de uma luta que mais parece uma dança coreografada: dois passistas envolvidos por uma roda de pessoas de todas as raças, sem distinção de idade, vestidas de branco e cantando músicas sobre a resistência negra – as famosas cantigas de capoeira. Com o intuito de difundir essa arte marcial afro-brasileira entre jovens e adultos, voluntários do Movimento Negro de Divinópolis (MUNDI), abrem as suas portas para a população, a fim de promover um momento de integração social e romper fronteiras sociais e culturais.

A oficina de capoeira dura em média duas horas e acontece três vezes por semana: segunda, terça e sexta-feira, às 19hs. Além disso, é dividida em algumas etapas: primeiramente, os alunos fazem o alongamento. Em seguida, desempenham movimentos individuais conforme o professor determina e, por fim, formam a roda para o jogo da capoeira. Durante a realização das atividades, o professor não mede esforços para ajudar àqueles que apresentam maiores dificuldades e, apesar do projeto ser denominado como “movimento negro”, há uma abertura para toda a população interessada em participar. “A utilidade da instituição se resume à promoção da igualdade social, combate ao racismo e fomento da expressão cultural. Nós agregamos valores. Não fazemos discriminação à raça, cor, sexo ou religião. Somos um grupo de pessoas muito abertas e motivadas para fazer melhorias à nossa cidade”, ressaltou Rogério Clementino, integrante do movimento.

O aluno participante deve passar por avaliações semestrais, chamadas de “graduação”, assim como funciona nas demais artes marciais. Ao subir de nível, recebe um certificado assinado pelo presidente do MUNDI e pelo mestre de capoeira, Flávio Moraes, que em agosto de 2012 foi convidado pela direção da instituição para fundar um grupo de capoeira, perdurando até hoje.

Responsável assim, pela diretoria do Setor de Esportes da ONG, além de lidar com as partes burocráticas do setor, Flávio ensina a arte marcial na sede do MUNDI há cinco anos. Segundo ele, esse trabalho social já ajudou várias pessoas, desde moradores de rua e usuários de drogas, à médicos e empresários. Dessa forma, ele enxerga a capoeira como uma busca pela inclusão e igualdade, sem qualquer tipo de discriminação social ou racial. “Eu busco o melhor em cada pessoa, oferecendo uma qualidade de vida melhor. A capoeira é a arte marcial brasileira que, além do esporte, tem como princípio a educação, disciplina e respeito”, ressaltou.
Tawani Sousa, professora de história e aluna da oficina, descobriu a capoeira recentemente e pretende se dedicar cada vez mais ao esporte. “Eu sempre achei a capoeira muito bonita, a cultura afro em si. Eu estava parada, então decidi participar. Além disso, a capoeira é uma atividade física intensa, depois que entrei na aula me sinto mais ativa. É legal, você trabalha bem o corpo”, destacou. 

A partir dessa iniciativa, a antiga estação ferroviária de Divinópolis deixa de ser um local esquecido e passa a funcionar como um espaço disponível para a manifestação da arte. O grupo, formado por homens, mulheres, crianças e adolescentes contribuem, de certa forma, para a preservação da cultura brasileira. A arte, expressa por meio do corpo e dos inúmeros instrumentos que se misturam ao ritmo das palmas, contagia e desperta o interesse não apenas dos alunos, mas daqueles que também assistem à oficina e, que sem notar, já estão participando da roda.

Memória e História

A capoeira é uma expressão cultural brasileira criada no século XVII como forma de lazer pelos escravos de origem africana. Embora nunca deixada de ser praticada, foi proibida pelo governo do país oficialmente até 1937. Hoje, é considerada um símbolo da cultura afro-brasileira, de resistência e opressão, tornando-se fonte de orgulho para a população em geral. Em 2014, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), reconheceu-a como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, aumentando a visibilidade do esporte e o número de praticantes no mundo todo.

Como participar

As inscrições para a oficina de capoeira são gratuitas e acontecem na própria sede do MUNDI. O interessado deve portar documento de identidade, foto 3x4 e avaliação médica, disponibilizada nos postos de saúde, comprovando estar apto para praticar esportes. É preciso ainda, assinar um termo de responsabilidade que consta como deve ser a conduta do aluno, além dos dias e horários da oficina.

A idade mínima é de cinco anos. No caso de menores de idade, os pais ou responsáveis devem acompanhar os alunos para efetuar a inscrição. Este ainda deve estar matriculado regularmente na escola e de três em três meses, precisa apresentar o boletim ao professor de capoeira para conferir o rendimento das notas.

Sobre a instituição

O MUNDI (Movimento Unificado Negro de Divinópolis) é uma entidade sem fins lucrativos que visa difundir a Cultura Afro Brasileira e Africana na região, além de executar programas de qualificação profissional e inclusão no mercado de trabalho por meio da educação, do resgate de conhecimentos tradicionais, do saber científico, da democratização e tecnologia da informação. 

A Instituição foi criada no ano de 2006, quando ocorreu a Primeira Festa da Consciência Negra na Cidade de Divinópolis, dia de homenagem a Zumbi dos Palmares. O evento contou com a participação de vários grupos de reinado, hip hop, dança afro, samba, pagode e capoeira. A partir dos frutos desse evento passou-se a considerar a necessidade de criar um movimento negro na cidade, com o intuito de organizar estes grupos, promovendo discussões acerca de lutas pela igualdade de direitos, questões fundamentais sobre educação, valorização e preservação da Cultura Afro Brasileira e Africana na cidade de Divinópolis e região. A iniciativa da criação do projeto partiu de quatro pessoas, entre elas, Geraldo Kubu, (ex-presidente do movimento) e Rogério Clementino (atual presidente). 

O MUNDI tornou-se referência na região Centro-Oeste acerca das questões étnico-raciais e busca agora dar sua contribuição em todo o país para a implementação de políticas públicas voltadas para a comunidade negra, inclusão social e combate ao racismo em todas as suas vertentes.
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